quarta-feira, 15 de outubro de 2008

CFCs


Carl Sagan foi um dos muitos cientistas lúcidos que considerava essencial o acordo para o fim da emissão de CloroFlúorCarbonos conseqüente da atividade industrial humana.
O CFC como ficou conhecido, ainda é a principal causa do buraco existente na camada de ozônio (isto foi especialmente evidenciado pelo trabalho de cientistas na Baía de Halley - Antártida, anunciado em 1985) que faz com que raios solares incidam sobre a vida neste planeta sem filtro natural algum e expondo à ameaça portanto, as formas animais que não dispõem de alguma proteção as ondas Ultra-Violetas do Sol, num efeito em cadeia. Algo que merece alerta geral sobretudo quando envolve perigo em relação à saúde da pele humana mais clara -que contém menos pigmentação protetora e muito mais vulnerável ao câncer. Estudos apontam que nos anos 90, a ocorrência de doenças cancerígenas cutâneas malígnas já era 10 vezes maior que em relação aos anos 50.
Como se não bastasse literalmente salvar a pele, o raio UV é responsável por maior índice de catarata nos olhos e pior, enfranquecimento do sistema imunológico à medida em que a exposição à luz solar se faz sem maiores cuidados. Ainda assim alguns privilegiados poderiam se gabar de estar protegidos suficientemente, tendo a cútis provida de mais melanina; baixa necessidade de serotonina ou ao se contentar com o uso da parafernália bloqueadora e anti-solar oferecida pelo mercado. Acontece que o UV compromete a existência dos fitoplânctons, base do ecossistema marinho. Pesquisas nas águas antártidas indicam a diminuição em até 20% da população destes microrganismos. Por mais que algum sujeito não se ache minimamente relacionado com o mar e seus recursos, a morte de plânctons acarreta além do colapso na teia alimentar, na diminuição da capacidade de consumo do gás carbono da atmosfera, já que o plâncton vegetal realiza fotossíntese. Ou seja, tal ser vivo deixa de contribuir com a oxigenação da água ao mesmo tempo que não reduz os níveis de CO2 do ar e conseqüentemente, há aumento do efeito-estufa. Esta é uma das várias maneiras de relacionar o problema do aquecimento global com a perda da finíssima camada de ozônio (de 3 milímetros, fosse medido nas condições de temperatura e pressão usuais aos humanos), mesmo sendo cada um destes problemas sérios distintos.
Cientistas não inventaram o CFC visando apenas dinheiro. Nos idos de 1920 com a necessidade de melhor conservação de alimentos e aperfeiçoamento das técnicas de refrigeração, era urgente substituir amônia ou dióxido sulfúrico, os fluidos utilizados então: ambos venenosos e fétidos. Quem contesta a comodidade dada com o advento das geladeiras, ao prover os cidadãos -cada vez mais concentrados nos centros urbanos- com o conforto de dispor de alimentos vindos de longas distâncias e ainda assim frescos, saborosos e com baixo potencial de intoxicação?
Porém em 1974, os pesquisadores Sherwood Rowland e Alfred Molina publicam os primeiros trabalhos sobre os reais perigos do CFC à camada de ozônio, até então inofensivo e "menina dos olhos" da indústria ligada à refrigeração e ar-condicionamento. Naquele momento, todo lucrativo complexo envolvendo o negócio do gás estaria ameaçado. Contestações e pressões contra a descoberta da dupla não demoraram a se espalhar mas por sua vez, as confirmações da fragilidade à que estaria exposta a biosfera eram cada vez mais evidentes por parte da comunidade científica.
Foi somente com a mobilização de diversos setores e o respaldo das Nações Unidas que em 1987, reuniram-se líderes que decidiram pelo banimento do CFC no que ficou conhecido como Protocolo de Montreal. Atribui-se a importância deste evento não apenas pela magnitude das mudanças mas especialmente pelo seu direcionamento: a decisão quanto à abolição deste gás foi acordada quando ainda não estava mais definida quais seriam as alternativas viáveis. Disse Mostafa K. Tolba, então diretor do programa para o meio ambiente da ONU: "é o primeiro tratado verdadeiramente global que oferece proteção para cada um dos seres humanos".
Ocorre que atualmente usa-se um sustituto similar à base de cloro e flúor. E, ainda que continue cúmplice do efeito-estufa, este é menos danoso que o CFC à camada de ozônio. Um invento ideal ainda tarda a acontecer, considerando-se que o acordo em Montreal foi efetivado somente em 1996 e que o CFC em suspensão chega a levar até 1 século para perder seu efeito destrutivo. Mesmo assim, a indústria continua a utilizar elementos como o Bromo que apesar de encontrado em menor escala, é cerca de 40 vezes mais eficaz na destruição da frágil película estratosférica. E não há acordos para suspender este uso até 2030. Igualmente preocupante são vozes de lobbies republicanos que ainda hoje consideram o acordo de Montreal discutível, o resultado de uma combinação de histeria da mídia com resultados científicos longe de conclusivos. Nas palavras de Sagan: "o que afinal os conservadores querem conservar?"
Não demora para que seja percebido destas forças conservadoras no poder o único interesse na manutenção do próprio status quo, numa visão imediatista e limitada, sem propósitos mais elevados na continuidade de um legado mais louvável que a humanidade poderia ser capaz de perpetuar. Há de se destacar entretanto, o julgamento do comitê para o Nobel, que finalmente em 1995, conferiu o prêmio de Química à Rowland e Molina.
Para finalizar, mais algumas palavras do autor de Cosmos, Dragões do Éden, em sua obra póstuma Bilhões e bilhões: "não somos sempre espertos ou sábios o suficiente para prever todas as conseqüências de nossos atos. A invenção do CFC foi um achado brilhante. Mas da mesma forma que aqueles químicos foram peritos, eles não o foram suficientemente. Precisamente porque os CFCs são tão inertes, sobrevivem tanto a ponto de atingir a camada de ozônio. O mundo é complicado. O ar é rarefeito. A natureza é sutil. Nossa capacidade de provocar danos é grande. Nós devemos ser muito mais cuidadosos e muito menos perdoados ao poluir nossa delicada atmosfera."
Ainda, nos parágrafos finais do capítulo Está faltando um pedaço do céu, ele reforça: "devemos desenvolver padrões mais elevados de higiene planetária e significativamente maiores recursos científicos para monitorar e entender o mundo. E devemos começar a pensar e agir não meramente em termos de nossa nação ou geração (muito menos os lucros de um setor indústrial específico) mas em termos do inteiramente vulnerável planeta Terra e as gerações de crianças por vir. O buraco na camada de ozônio é um tipo de escritura, um aviso nos céus. Em princípio parecia soletrar nossa contínua complacência na presença de um caldeirão de bruxa de riscos mortais. Mas talvez, de fato, verse sobre a revelação de um talento para trabalhar junto da proteção do meio ambiente global. O Protocolo

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